Thomas
Hobbes (1588-1679)
A
única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los
das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros,
garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante
seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se
e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um só
homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas
vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale
a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como
representante de suas pessoas, considerando-se e reconhecendo-se cada
um como autor de todos os atos que aquele que representa sua pessoa
praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e
segurança comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do
representante, e suas decisões a sua decisão. Isto é mais do que
consentimento, ou concórdia, é uma verdadeira unidade de todos
eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem
com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a
cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim
mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição
de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante
todas as suas ações. Feito
isto, à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado,
em latim civitas.
É
esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em
termos mais reverentes) daquele Deus
Mortal,
ao qual devemos, abaixo do Deus
Imortal, nossa
paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada
indivíduo no Estado, é-lhe
conferido o uso de tamanho poder e força que o terror assim
inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no
sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contras os
inimigos estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, a
qual pode ser assim definida: Uma
pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos
uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a
ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que
considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum.
Àquele
que é portador dessa pessoa se chama soberano,
e
dele se diz que possui poder
soberano.
Todos os restantes são súditos.
(Leviatã. Trad.: João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. “Os Pensadores”. Abril S.A. Cultural, São Paulo, 1974 – 2ª edição, 1979 – 3ª edição, 1983.)
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